quinta-feira, 17 de março de 2016

CORRUPÇÃO


As pessoas têm o habito de apontar corruptos quando assistem a televisão, ou em época de campanhas eleitorais, ou quando estão diante de escândalos veiculados na imprensa. 

Em fases como esta que estamos vivendo, em que todos os dias temos novos capítulos sobre corrupção vindo à tona pela mídia, é comum ver as pessoas trocando a habitual e informal conversa sobre o clima, por conversas mais densas, sobre a política nacional, corrupção, atuação do poder judiciário e da polícia federal. Mas tenho para mim que a corrupção não está fora das pessoas, e sim, dentro. Há um ditado que diz: “a oportunidade faz o ladrão”. Esse ditado mostra que a corrupção é latente. 

Quem não devolve troco; quem encontra uma carteira e não procura pelo dono; quem faz gato de TV a cabo; quem semeia intrigas no trabalho para obter promoções; quem conscientemente leva embora caneta de uma loja; quem aceita suborno; quem assume a presidência de uma Entidade e começa a desviar recursos ou a viver com o dinheiro da Entidade, tudo isso é corrupção. Então, ato corrupto, é tudo o que uma pessoa faz quando ninguém está olhando. 

Todas as pessoas sabem que a vida é uma aprendizagem. Todas as pessoas sabem, por formação familiar, religiosa, social, que a cada dia precisamos ser melhores, e não piores. Então, qualquer pessoa, pode aprender com os próprios erros e mudar. Mas para isso, é preciso que as pessoas controlem seus impulsos. Escolham ser diferentes diante de cada oportunidade de obter uma vantagem indevida. E isso é uma questão de escolha. 

Alguns povos são mais corruptos, outros menos, conforme a base na qual a nação foi construída. O Brasil foi construído em bases pouco recomendáveis. Sabemos que na época do Brasil-Colônia, Portugal mandou para cá os degredados, ou seja, os condenados, os criminosos, os excluídos, e isso imprime em nós um péssimo começo. No entanto, também vieram para cá os conquistadores, os trabalhadores, os determinados a mudar de vida, e isso plantou em nós a semente de nossa própria reconstrução. 

“Jeitinho brasileiro” e uma doença contagiosa e uma péssima marca para nós brasileiros. É tão grave que em alguns países, as pessoas possuem regras de tratamento especial quando há brasileiros dentro de uma loja, por exemplo. Somos todos medidos pela maioria, em qualquer lugar do mundo. Este é um traço que o povo brasileiro precisa mudar urgentemente. Estão dando “jeitinho brasileiro” na administração do país, e o que estamos ganhando com isso? Uma grave recessão, que se mal conduzida, pode quebrar o país. E se nada for feito a tempo, amargaremos uma triste caminhada até colocar tudo em ordem novamente, com muito suor e lágrimas.

Por isso, vejo da seguinte forma: cada vez que um brasileiro assiste a televisão e se sente indignado, toma uma dose do remédio que pode curar o “Jeitinho brasileiro”. Não é possível que uma pessoa fique indignada com a conduta de outra, e não avalie a si própria. Se não gostamos do que estamos vendo, então não queremos que isso continue, e se não queremos, nossa vontade de mudar é soberana.

Entendo que não há medição para relevância da corrupção. Se o resultado da vantagem indevidamente obtida é grande ou pequeno, é a atitude de quem pratica o ato que demonstra a falta de valores. A cada um cabe aquilo que é de cada um. Pode-se obter ajuda, mas não é justo obter benefícios escusos. Quem rouba uma caneta, roupa um país, pois ser honesto não tem tamanho.

Nunca o povo esteve tão próximo dos Ministros do Supremo Tribunal Federal. Desde o julgamento do Mensalão, as pessoas se habituaram a assistir julgamentos e acompanhar o trabalho de Ministros da esfera mais elevada do poder judiciário. Também nunca se esteve tão próximo das sessões do Senado e da Câmara dos Deputados. Neste ponto, além da imprensa, devemos render homenagens à amplitude da informação proporcionada pela TV Senado, TV Câmara e TV Justiça. A fiscalização popular dos trabalhos dos Três Poderes se tornou cotidiana. Eu vejo isso como um ponto muito positivo. E vejo também que as pessoas se sentem menos seguras para praticar a corrupção. 

O processo de depuração que estamos vendo acontecer tem feito as pessoas refletirem. Desta reflexão surge o julgamento. E do julgamento, emergem valores. Valores como o da transparência e da retidão estão sendo exigidos publicamente. Pessoas saem às ruas para protestar por estes valores. Essa força está emergindo e contaminando todas as pessoas de uma vez só, e vai nos obrigar a praticar isso no nosso dia-a-dia, em cada ato, em cada conversa, em cada atitude. 

O brasileiro está cansado. A crise econômica e política, apesar de funesta, está provocando um efeito fantástico. Na nossa vida prática, estamos percebendo que por causa da corrupção, temos que trabalhar cada vez mais, e ter cada vez menos. Isso é uma lição aprendida na pele, que torna as pessoas conscientes do péssimo negócio que é ser corrupto.

A corrupção só acontece se o ser humano envolvido em determinada situação estiver propenso. Há pessoas corruptíveis, há pessoas incorruptíveis e há pessoas que se amoldam à situação conforme o binômio necessidade-facilidade. Se a pessoa não precisa, é mais fácil resistir. Mas se precisa, esse é o momento em que vem a tona o caráter. 

E aí, tenho o seguinte a ponderar: o que faz de nós seres insaciáveis, que precisam sempre de mais, e mais, e nada é suficiente? A ganância. E o que faz de nós seres ganaciosos? A necessidade de provar o que se É, pelo que se TEM. Essa é a marca do nosso tempo, que precisa ser repensada.

Um comentário:

  1. Parabéns pelo artigo.
    Concordo com a evoluÇão da consciência que o momento tem trazido a todos nós.
    Leia www.integritismo.com.br

    ResponderExcluir